No olho do furacão, até os mais experientes têm dificuldade de manter o pensamento racional. Nessas horas, o pânico (ou a euforia) afloram a pele, e a mente se enche de ruídos, dúvidas e reações impulsivas.
Depois que a primeira onda passa — e que onda! — começamos a digerir o que vimos: níveis de volatilidade e chamadas de margem raramente observadas no mercado americano. Aos poucos, os pensamentos ganham forma, ainda que as conclusões sigam sendo um processo em construção. Colocar tudo no papel é o que me ajuda a organizar essas ideias soltas. No fim das contas, essa news é quase um exercício pessoal — escrevo primeiro pra organizar minhas ideias, pra entender o que estou pensando no meio do caos. Se isso te ajuda também, melhor ainda. Saber que você está aí, lendo e acompanhando, torna esse processo ainda mais gratificante.
Boas ideias merecem companhia — se você gosta desse conteúdo, compartilha com alguém que possa curtir também!
Tarifas
Foi o assunto das duas últimas news:
Expresso Semanal #025
“O dia da Libertação americana”
Chegou, enfim, o tão aguardado Dia T – um marco que, nas palavras do próprio Trump, “será lembrado como o dia em que a indústria americana renasceu”.
Expresso Semanal #026
Caos (s.m.)
No mercado financeiro, caos é o nome bonito que damos para aquele momento em que ninguém sabe absolutamente nada — mas todo mundo age como se soubesse. O caos acontece quando a incerteza é colocada a mesa.
Passado alguns dias, o pensamento inicial sobre a Reciprocidade se mostrou correto. As tarifas não foram aplicadas com base no quanto os países cobram dos EUA e sim em como é a balança comercial deles com os americanos
País com balança superavitária para os EUA: Tarifas mais brandas.
É o caso do Brasil: importamos cerca de US$ 70 bilhões e exportamos US$ 40 bilhões para os americanos — ou seja, um superávit de quase US$ 30 bilhões a favor deles. Resultado? Fomos poupados com alíquotas menores.País com balança deficitária para os EUA: Tarifas altas. E quanto maior o déficit, maior a tarifa. Foi o que aconteceu com grande parte dos países asiáticos, onde as taxas foram mais pesadas como tentativa de reequilibrar o jogo comercial.
Observe no mapa que Rússia e Coréia do Norte ficaram de fora da nova política tarifária por estarem sob sanções comerciais com os EUA. Já México e Canadá não entraram no anúncio inicial porque seguem em negociações paralelas com Washington.
Pelas movimentações abruptas do mercado, a intensidade e o alcance das tarifas surpreendeu muita gente. Um dos sinais mais curiosos foi o comportamento do ouro. Tradicionalmente visto como porto seguro em momentos de turbulência, o metal caiu quase 5% a partir da máxima recente. O motivo? Chamada de margem.
Com os ativos derretendo e os investidores correndo atrás de liquidez, o ouro acabou sendo sacrificado para levantar caixa. Em vez de proteção, virou fonte de funding.
Quer saber como investir e preparar sua carteira para ser resiliente a vários cenários? Vamos conversar sobre como posicionar sua carteira!
Ontem até parecia que o mercado ia finalmente respirar mais aliviado. Ledo engano. O dia começou promissor: todas as ações subindo, o VIX recuando 20%, e um certo otimismo no ar — alimentado por Trump, que disse ter tido uma “boa ligação” com a Coreia do Sul e que estava no aguardo da China. Pois é… ficou esperando sentado.
Pra completar, Mary Daly, presidente do Fed de San Francisco, tentou dar uma acalmada dizendo que o banco central está preparado. O mercado ouviu, mas respondeu com aquele clássico sorriso amarelo.
Toda animação durou pouco e o rota foi alterada novamente para o playbook recessão, com o nível de incerteza aumentando a medida que o mercado ficava sem noticias da negociação americana com os chineses. Nos bastidores devia estar rolando essa conversa:
Memes à parte, a receita é bem simples! Um alto grau de incerteza gera um alto grau de volatilidade, onde a racionalidade perde espaço e a lógica vai passear. Quanto mais incerteza, mais lenha na fogueira. Estamos vendo muitas operações serem liquidadas por chamadas de margem. Que por sinal, foram as maiores desde a pandemia. Ontem, 29 bilhões de ações trocaram de mãos no mercado americano, o maior volume em 18 anos!
O playbook que o mercado opera segue inalterado. Cada crise tem suas particularidades: muda a origem, os efeitos colaterais e a forma como termina. Mas os padrões? Esses adoram se repetir.
No ciclo das turbulências, o mercado financeiro costuma se mover antes da economia real sentir o baque. Seja na euforia ou na dor, é sempre o sentimento do mercado que dispara primeiro. Às vezes, vira uma profecia autorrealizável. Outras vezes, é uma transformação estrutural, que chacoalha as engrenagens da sociedade.
Qual crise é essa?
A verdade é que, por enquanto, o desfecho de tudo isso segue envolto em névoa. Ninguém — repito, ninguém — sabe como essa história termina.
Se você fez o dever de casa, com uma carteira bem alocada e diversificada, talvez o melhor a se fazer neste momento seja justamente não acompanhar tudo tão de perto. Nessas horas, o emocional vira o maior inimigo. Espere a poeira baixar. E aí sim, analise: os fundamentos mudaram? Então é o momento de agir com consciência.
Agora, se você perdeu o sono nos últimos dias por causa do mercado… desculpa, mas sua alocação precisa ser revista. Entre todas as estratégias de portfólio, a “técnica do travesseiro” segue imbatível — se você dorme bem, provavelmente está no caminho certo.
Se você passou por tudo isso com tranquilidade, confiante na construção da sua carteira, parabéns! Fico feliz se, de alguma forma, meus textos por aqui te ajudaram nesse processo. Mas se você se sentiu perdido, ansioso ou não sabe o que fazer… estou por aqui. Vamos conversar!