“O dia da Libertação americana”
Chegou, enfim, o tão aguardado Dia T – um marco que, nas palavras do próprio Trump, “será lembrado como o dia em que a indústria americana renasceu”. Com essa bandeira desde o período pré eleitoral, Trump finalmente revelou ao mundo como os EUA vão lidar com as importações de cada país.
Trump reforçou o discurso da reciprocidade, alegando que os americanos sempre foram tratados de forma injusta e que sua medida nada mais faz do que equilibrar essa balança. Durante seu pronunciamento, destacou que, mesmo com as novas tarifas, as taxas aplicadas pelos EUA ainda são significativamente menores do que as que enfrentam no comércio global.
No entanto, ficou claro que a tão defendida "reciprocidade" foi mais um discurso do que uma regra real. Na prática, a definição das tarifas não seguiu o critério do quanto cada país taxa os produtos americanos, mas sim se sua balança comercial com os EUA é superavitária ou não!
O Brasil, por exemplo, foi taxado na alíquota mínima de 10% — um percentual bem menor do que realmente cobramos sobre produtos americanos. O motivo? Nossa balança comercial com os EUA é deficitária: importamos cerca de US$ 70 bilhões e exportamos apenas US$ 40 bilhões, garantindo aos americanos um saldo positivo de aproximadamente US$ 30 bilhões.
Tarifas automóveis
Além das tarifas gerais, Trump oficializou a taxação de 25% sobre automóveis que não são fabricados nos EUA. No caso do Brasil, o impacto direto é nulo, já que, segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), o país não exporta automóveis para o mercado americano.
Os mais afetados por essa medida serão México, Japão e Coreia do Sul, grandes fornecedores de veículos para os EUA. Além disso, as montadoras instaladas no país também sentirão os efeitos, já que muitos dos componentes utilizados na produção são importados e agora enfrentarão custos mais altos.
No histórico das importações de automóveis, fica evidente o crescimento da relevância do México a partir de 2013. Além disso, a ausência da China chama atenção — o país sempre enfrentou tarifas elevadas e nunca conseguiu penetrar de fato no mercado americano.
E o Brasil?
À primeira vista, o Brasil parece ter saído em uma posição relativamente vantajosa, considerando que as tarifas aplicadas ao restante do mundo foram bem mais agressivas. Se antes muitos produtos brasileiros não eram competitivos no mercado americano, agora, com os asiáticos enfrentando tarifas médias de 50%, surge uma oportunidade para o Brasil expandir suas exportações.
Uma leitura de segunda ordem é que a China e outros países asiáticos, diante das novas barreiras nos EUA, buscarão novos mercados para escoar sua produção. Isso pode resultar em um aumento do investimento em outras regiões, como a América Latina, o que, em certa medida, também pode favorecer o Brasil.
A balança comercial brasileira já passou por mudanças significativas nos últimos anos:
Enquanto escrevo, o Brasil é a única bolsa em terreno positivo nessa manhã pós-tarifas:
Daqui pra frente
A grande jogada de Trump parece ter sido “colocar o elefante na sala”. O próprio Bessent comentou, após o discurso, que as nações não deveriam entrar em pânico, mas sim sentar à mesa e negociar. E esse parece ser o verdadeiro objetivo: lançar tarifas agressivas, forçar negociações e, eventualmente, ajustar os percentuais.
Agora, o que realmente importa é acompanhar a reação global, especialmente dos países asiáticos, para entender se essa guerra tarifária vai escalar ainda mais ou se a estratégia de Trump levará a um novo equilíbrio comercial.