When "Safe Assets" are not that Safe
Quanto mais tempo passamos dentro do mercado, mais claro nos fica que o pilar principal, por trás de toda a burocracia e negociações, é a confiança.
No mercado, os títulos soberanos são considerados os mais seguros do mundo. Principalmente quando se fala das principais economias do mundo.
Como exemplo, hoje a dívida dos EUA alcançou 31 trilhões de dólares. São quase 1,4x o PIB americano. E mesmo assim a demanda pelos tesouros americanos não sofre nenhuma diminuição na demanda? O motivo: não existe título mais seguro no mundo.
Entretanto, em teoria, eles são livres do risco de calote. Mas podem sofrer, como qualquer outro título, declínios de preço e também com volatilidade
Nesse momento o FED esta com seu programa de QT, ou seja, de forma geral o net de suas operações é de venda de títulos.
Uma preocupação que eu tenho, e que vem aumentando nos últimos tempos, é de termos o mercado de tresuries americano disfuncional, algo similar com o que aconteceu com o mercado de títulos do Reino Unido…
UK
Recentemente, observamos no mercado de gilts (títulos do governo do Reino Unido), os títulos mais longos abrindo e sendo empurrados, perigosamente, para perto da insolvência, sendo salvos apenas, pela intervenção emergencial do banco central. Essa preocupação levou o Banco central Inglês a voltar com o seu programa de compras (QE) e adiar o processo de vendas que deveria ter se iniciado (QT). Com isso, por ora, fez com os preços segurassem e restaurassem assim a solvência de alguns investidores institucionais (e evitando que todo o sistema de pensões do Reino Unido tivesse uma alta chamada de margem). Mesmo com uma inflação em 10,9%, o Reino Unido não poderia deixar seus títulos irem acima de 5% por causa de toda a alavancagem que existe nesse mercado.
Dessa forma, o Reino Unido entra no mesmo barco que o Japão e vários outros países europeus, os quais os BC continuam o processo de compra de títulos, mesmo com a alta e descontrolada inflação.
Beyond the Governments
O sistema bancário funciona de uma forma muito parecida. Se por um lado os bancos fornecem créditos para as empresas, do outro, eles são um porto seguro para a população depositar e guardar seu dinheiro.
Se o banco perde credibilidade, seu negócio is over. Afinal, vou depositar meu dinheiro suado em um local que não me passa segurança? E com isso, todo o sistema financeiro fica em risco.
Um aprendizado da crise financeira de 2008 foi a criação de uma lista de instituições importantes para o sistema financeiro global (SIFIs). Essas instituições são too big to fail, ou seja, elas podem ser um trigger para uma crise financeira global.
Neste momento, temos 2 dessas instituições com a sua reputação e solvência em dúvida:
Com 3 trilhões de dólares, Credit Suisse e o Deutsche Bank são dois dos principais bancos do mundo. As duas vem sofrendo nos últimos tempos em relação a sua capacidade de honrar contratos e liquidez. Inclusive, o CS propôs a recompra de 3 bilhões de dólares em seus títulos de dívida.
Seus CDS (instrumento utilizado como proteção contra a inadimplência em operações de crédito) encontram-se nas máximas. Suas ações estão caindo -54,33% e -35,73% respectivamente:
Os riscos da reputação contaminam todo o sistema financeiro mundial. Nesse mercado, a própria credibilidade é o pilar central. A reprecificação acentuada do mercado levanta preocupações generalizadas em relação a solvência e que precipita uma própria corrida ao sistema financeiro. É um mercado onde a profecia se torna auto-realizável, pela sua própria natureza.
Uma instabilidade financeira irá, provavelmente, forçar os bancos centrais a segurar o mercado de bonds e de títulos. A quebra do Lehman ainda continua muita vívida na lembrança dos policy makers, os quais acredito que façam o possível e necessário para algum risco de calda generalizado. Mas o risco de cauda existe, e precisamos ficar atentos!