Expresso Financeiro #012 - Reflexões sobre o que podemos controlar
Meus queridos amigos e investidores,
Que semana hein! Sempre enxerguei os mercados, e a vida, como uma dança de ciclos: altos e baixos, subidas e quedas… e a grande aventura é se equilibrar no meio disso. A arte de investir segue o mesmo ritmo, e essa semana foi um claro lembrete que precisamos estar preparadas para as surpresas do trajeto.
Nas últimas semanas o mercado estava operando em tom defensivo, aguardando ansiosamente o anúncio do plano de gastos. As expectativas já estavam ajustadas para o lado mais pessimista, o que indicava que deveria abrir espaço para algum otimismo ao menor sinal de responsabilidade fiscal, e assim acompanhar o bom humor dos mercados globais. Mas, como quase sempre, o Brasil não perde a oportunidade de perder uma oportunidade. E são nesses momentos que moram a oportunidade de fazer a reflexão de como se encontra a nossa carteira e o nosso asset allocation.
Controlar o que podemos controlar
Investir não é sobre controlar o incontrolável. Não podemos controlar eventos de cauda; não podemos controlar as reações do mercado; não podemos controlar as decisões do governo (a não ser no momento do voto); nem o destino de um ativo. Mas há algo que podemos - e devemos - controlar: as nossas decisões e a forma como ajustamos a exposição ao risco. Muito investidores desperdiçam energia preocupando-se com variáveis que fogem do alcance e negligenciam aquilo que podem, de fato, controlar.
Os eventos de cauda que acontecem pelo caminho (e desculpe, infelizmente eles vão acontecer durante a jornada - e no Brasil, numa frequência muito maior do que a desejável) servem para colocar o nosso asset allocation a prova. Você perdeu o sono com a volatilidade? A queda do mercado te deixou inquieto dando aquela dor de estômago? Esses são sinais claros de que sua alocação precisa de ajustes. Cada turbulência é um teste, e um convite para (re)alinhar suas estratégias com o seu perfil e objetivos.
Uma semana de surpresas (ou nem tanto)
As expectativas já era baixas… o mercado já tinha colocado os parâmetros lá em baixo, onde qualquer coisa minimamente factível seria um impulso positivo para os ativos. Mas no meio do caminho tinha um Brasil - tinha um Brasil no meio do caminho. Fazendo o que melhor saber fazer: lambança.
Esperávamos um corte de gastos. Recebemos um corte na arrecadação. É como sair da consulta com a nutricionista, decidido a seguir a dieta, e acabar direto pro espeto corrido ou rodizio de pizza. É planejar comprar na Black Friday e pagar mais caro do que no preço cheio. A leitura principal, sobre as entrelinhas das medidas apresentada, foi a clareza de que o corte de gastos não é prioridade para esse governo.
Sobre as medidas (algumas necessárias e atrasadas):
Mudanças faixa de IR: isenção para até 5k/mês, uma faixa de desconto entre 5k e 7k, e 27,5% para acima de 7k e taxas progressivas para quem tem renda maior. Essa foi a primeira notícias vinculada. Incrível a inteligência das Relações Públicas do governo anunciar um corte na arrecadação como primeira medida. Segundo o governo, a medida traria um impacto na arrecadação em R$35 bilhões. O Itaú acha que esse número esta mais entre 50-80 bilhões e eu concordo. O “jeitinho brasileiro” tem que se colocar na conta: quantos que ganham R$6 ou R$7 mil vão "ajustar" sua renda para se enquadrar no teto?
Limitação do crescimento do salário mínimo: passaria a crescer no máximo 2,5% e no mínimo 0,6% acima da inflação, ao invés de ser corrigido pela inflação + aumento do PIB de dois anos anteriores
Previdência dos Militares: idade mínima de 55 anos para a reserva remunerada e terminar com a “morte ficta”, que é quando o militar era excluído ou expulso e ainda assim recebia direitos para a família.
Abono Salarial: corrigido apenas pela inflação e não pela indexação do salário mínimo
Mudanças nas regras de acesso do BPC: o Benefício de Prestação Continuada, com critérios mais firmes e direito para quem tem até 2 salários mínimos, mas com reajustes pela inflação
Super salários público: nenhum servidor deve ganhar além do previsto no teto — algo próximo a R$44 mil hoje.
Um olhar à frente
Das poucas certezas da vida, uma é que o futuro do Brasil não vai ser um mar de tranquilidade. Decisões políticas continuarão a impactar diretamente a economia. O IPCA+7%, junto com um dos maiores juros reais do mundo, serão vetores desafiadores. Mas é nesses cenários que as oportunidades surgem. Do outro lado, estamos com a bolsa no seu menor valuation histórico, e a estrutura de capital das empresas se encontra nas melhores das formas. Junto com o adequado asset allocation, isso é que o me mantém firme em estar posicionado. Num exercício de otimismo, não descartaria o cenário de os tempos atuais terem um pin, lá no futuro, do momento onde podíamos comprar bolsa a 5-8x P/L. Em tempos assim que as fortunas são criadas no longo prazo.
Permaneço mais preocupado com as coisas nas quais eu posso controlar e certo de que, os ciclos, sempre giram. Dias melhores virão, bem como tempestades, e o que vai me fazer dormir tranquilo é a minha exposição. Principalmente sem o Home Bias.. mas isso é assunto para uma próxima.
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